História
O Palácio de Santos – Embaixada de França em Portugal é um dos mais belos e importantes palácios de Lisboa.
Construído entre os séculos XVII e XVIII pela família Lancastre, o Palácio resistiu ao Terramoto de 1755, preservando assim aspectos únicos do barroco português.
Na segunda metade do século XVIII recebeu novas campanhas de obras, nomeadamente nas duas grandes salas de recepção, a sala da música e o grande salão, que comunicam com o jardim.
A história deste palácio e lugar remonta às origens da cidade de Lisboa.
No século IV os irmãos Veríssimo, Máxima e Júlia são vítimas das perseguições do imperador Diocleciano, sendo martirizados, mortos e os seus corpos atirados ao rio que “por milagre” dão à costa – assim os fiéis de Lisboa puderam sepultá-los e construir nesse lugar à margem do Tejo uma primitiva capela em seu nome. Esta terá sido destruída, mas após a conquista da cidade aos mouros em 1147, Dom Afonso Henriques manda erguer uma nova ermida em veneração dos primeiros cristãos mártires da cidade, no local onde se encontra o palácio que ficou, por esta razão, chamado o Palácio de Santos.
Nesse local nascerá um convento que no século XV é transformado em residência palaciana. Esta passará posteriormente para à posse da família Real – o Rei D. Manuel I, construtor do Mosteiro dos Jerónimos, gostava de se retirar para este lugar, assim como o seu neto D. Sebastião que, segundo a tradição, tomou no jardim deste palácio, na mesa de pedra que lá se encontra, a sua última refeição antes de partir para a fatídica batalha de Alcácer Quibir.
Mas quem vai moldar este palácio tal como o conhecemos hoje são os irmãos Lancastre, Luís e José, herdeiros do antigo palácio que encomendam no século XVII uma grande campanha de obras a João Antunes, arquitecto introdutor da linguagem do barroco italiano em Portugal.
Autor de obras como a Igreja de Santa Engrácia, actual Panteão Nacional, ou da Igreja do Menino de Deus, sua derradeira obra, João Antunes vai conceber um palácio que procura tirar partido não apenas da sua proximidade com o rio e assim da boa acessibilidade, mas também das belas vistas e ares puros que este lugar proporciona.
Cria então um edifício em “T”, favorecido por um jardim, sendo igualmente deste período construtivo o alpendre, a capela, a sala das porcelanas e a sala vaga – vestíbulo, este último encimado pelas armas dos Lancastre, uma derivação das armas reais de Portugal pela sua descendência de D. João II.
A capela, de pequenas dimensões, é uma jóia do barroco português, numa perfeita combinação entre talha dourada, pintura e azulejaria. A pintura ao centro do altar representa uma da Crucificação atribuída a Amaro do Vale, e forrando as paredes e tectos encontram-se várias cenas evangélicas, santos e santas, entre eles estão representados os três irmãos mártires, de escolas de pintura portuguesas e espanholas. Na sacristia encontra-se uma curiosa combinação azulejar, iniciada pelo “Anjo do Silêncio” e seguida pelo “nó da aliança”, culminando numa composição da artista Helena Vieira da Silva.
É também neste período construído o que é considerado o ex-libris do palácio a nível mundial: um tecto piramidal, em madeira talhada, preenchido com 267 pratos de porcelana da China. O seu extraordinário efeito cénico tanto impressionou quem o viu na altura como ainda o hoje o faz. Além da sua beleza e raridade de composição, guarda uma das melhores colecções de porcelana da dinastia Ming.
Se a maior parte da estrutura arquitectónica é desenvolvida no século XVII por João Antunes, serão os descendentes dos Lancastre, futuros marqueses de Abrantes, que se encarregam de uma nova campanha de obras que privilegiará as artes decorativas.
D. Pedro de Lancastre, 6º Conde de Vila Nova de Portimão, e seu filho, D. José Maria, 6º Marquês de Abrantes, vão encarregar o pintor Pedro Alexandrino de Carvalho de decorar os tectos das salas de aparato e Pedro António, André José e André Monteiro da pintura mural, conjunto de uma erudita abordagem ao gosto pompeiano que invoca a mitologia greco-romana.
Pedro Alexandrino, célebre pelas várias campanhas decorativas em Lisboa, como os altares da Igreja dos Mártires, ou o tecto da Igreja do Loreto, vai assim pintar algumas salas de aparato – na Sala da Música duas composições aludem à obra virgiliana, com Juno implorando a Éolo que mande ventos contra a frota de Eneias, e Vénus pedindo a Vulcano que forje armas para o herói. Em seu redor, representam-se alegorias das artes liberais, os quatro continentes e as quatro estações.
No Salão representam-se Polifemo e Galateia e o Julgamento de Paris, bem como cenas das Metamorfoses de Ovídio como Dafne a ser perseguida por Apolo.
Mais tarde, com a Monarquia Liberal, a família cai em declínio financeiro e é obrigada a arrendar o palácio – primeiro à viúva de Dom Pedro I do Brasil, a Imperatriz Amélia de Beauharnais, depois à Infanta D. Ana de Jesus, Duquesa de Loulé, e mais tarde ao então Conde de Armand, chefe da diplomacia francesa em Portugal que propiciou em 1909 a compra do palácio pelo estado Francês, transformando-o em Embaixada de França, função que até hoje perdura.