A Casa das Torres é uma das mais eloquentes expressões arquitectónicas da glória atingida pelos primeiros brasileiros ou torna-viagem minhotos — aventureiros de perfil sócio-económico eclético atraídos ao Brasil colonial pela promessa do ouro e de outras riquezas. Desde o sobranceiro posicionamento na paisagem, dominando o vale, às fartas cantarias dos vãos e aos aparatosos fogaréus que lhe coroam as torres, tudo na sua configuração parece obedecer ao ímpeto de impressionar.
Devemo-la a André Pereira da Silva, regressado a esta sua freguesia natal ao redor de 1750 com grande fortunaconquistada, a pulso, no Novo Mundo. De 1751 data um primeiro contrato de obras por si firmado, já ambicioso; em 1754, contudo, enleado pelo projecto, decide acrescentar-lhe novas melhorias — entre elas os ricos elementos de aparato da fachada a Nascente. Sabemos que o mestre-pedreiro responsável pela obra, Pedro Gonçalves Carvalho, trabalhou paralelamente na célebre capela de Santa Maria Madalena do Monte da Falperra, próximo de Braga, sob a tutela do riscador André Soares — vindo a constituir um ponto de contacto entre esta obra e a melhor arquitectura do barroco tardio regional. Na configuração dos volumes e em algum do ornato sentem-se também ecos da influência de Nasoni, nomeadamente das suas quintas de recreio nos arredores do Porto.
Se emblematiza a grandeza e o impacto logrado por certos brasileiros, a Casa das Torres incarna também bastante da tragédia inerente a essa saga, tão definidora dos destinos e da identidade do Minho. Avançada a obra, e escasseando-lhe os cabedais que julgara inesgotáveis, Pereira da Silva contrai pesadas dívidas. Oprimido pelos credores, opta por tentar a fortuna no Brasil segunda vez, já passado da meia-idade. A sorte, contudo, não lhe sorriu desta feita, tendo desaparecido por essas paragens sem mais notícia. Levado à praça para satisfação de credores em 1770, o imóvel foi adquirido pela família Rite de Figueiroa, de Viana, e transmitido por descendência aos actuais proprietários.
Desde a década de 1980, a Casa das Torres está aberta a hóspedes enquanto unidade de Turismo de Habitação.
Facha
Ponte de Lima
Coordenadas GPS:
41.717083, -8.617694
41°43’01.5″N 8°37’03.7″W
O projeto VINCULUM recebeu financiamento do European Research Council (ERC), ao abrigo do programa de investigação e inovação da União Europeia Horizon 2020 (contrato de bolsa nº 891734).
O IHC é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito dos projetos UIDB/04209/2020, UIDP/04209/2020 e LA/P/0132/2020.